sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Cadê seu agente?

Na última semana de outubro fui aos Estados Unidos para o lançamento da edição americana da Festa no covil. Participei de dois festivais literários, em Salt Lake City e Austin, e fiz leituras em livrarias de Portland e Seattle. Foi minha primeira experiência direta com o “sistema literário americano” e achei fascinante… e muito estranho.

Nas diferentes escalas, o normal era que meus anfitriões fossem escritores e professores de escrita criativa, dos famosos em-ei-ef (MAF): Master of Arts in Fiction. Durante nossas conversas, quando eu contava como consegui publicar meu primeiro romance, sempre aparecia a mesma pergunta incrédula:

— Você não tem agente? Como assim?

Eu explicava com detalhe que em 2009 enviei o manuscrito da Festa no covil por correio à editora Anagrama, na Espanha, que a editora gostou e que publicaram em 2010. Que assinei um contrato de direitos mundiais e que eles fazem o trabalho de venda dos direitos das traduções. Sem exceção, meus anfitriões achavam dois epílogos para minha história:

1) Isso nunca teria acontecido nos Estados Unidos.

2) Você tem agente, sim, é a sua editora.

Obviamente os agentes literários existem no mundo inteiro, mas os dos Estados Unidos são uma versão hiper-desenvolvida e hiper-influente, ao ponto de que o pessoal lá parece incapaz de imaginar um mundo onde um escritor não tem agente. Achei super engraçada essa visão da literatura e decidi consultar com meu mexicano de cabeceira. (Essa é uma das grandes vantagens de ser mexicano: quando você vai ao exterior e precisa de ajuda — inclusive ajuda epistemológica, como neste caso — sempre vai encontrar um mexicano por perto.) Meu mexicano de cabeceira mora em Austin, é formado em jornalismo e atualmente está estudando… adivinhem… sim!: um Master of Arts in Fiction.

Parece que para ser um verdadeiro aspirante a escritor nos Estados Unidos a melhor estratégia é se inscrever num MAF. Um MAF é uma versão supersônica de uma oficina de escrita criativa. Você entra com um projeto de livro que vai escrever durante o curso. A ideia é que ao finalizar você tenha um livro pronto para tentar sua publicação. Vamos traduzir isso para o inglês: ao finalizar você terá um livro pronto para tentar convencer  um agente literário de aceitar representá-lo.

Eis aqui a boa notícia: se você está escrevendo um livro bom, algum dos professores vai perceber. O comum é que o professor não seja um aspirante a escritor, o professor é um escritor. Vamos traduzir isso para o inglês: o professor tem agente literário. O professor vai ligar para o agente dele e vai falar assim:

— Olha, tem um carinha aqui interessante, acho que você deveria conversar com ele.

Então você vai ter uma reunião com o agente literário, na qual o importante não é o que você já escreveu. O importante é o que o agente imagina que você pode chegar a escrever. Quem sabe você é um Pulitzer!

O mais esquisito são essas reuniões, que na verdade são como entrevistas de seleção de pessoal. Eis aqui a má notícia: o agente pode recusar você. Ele pode achar que seu potencial não é interessante e não quer perder o tempo. (Lembra que Estados Unidos é um país capitalista?) Vamos traduzir isso para o inglês: se você é recusado pelo agente, você não consegue passar da categoria aspirante a escritor para a categoria escritor. Ou seja: você não é escritor.

Não sei vocês, mas eu tenho muitas perguntas. O agente literário é um leitor tão qualificado para ser o representante dos leitores? Ou o agente literário simplesmente conhece muito bem o que as editoras estão buscando? Ou seja: o agente literário só vai contratar autores que sabe que pode colocar com uma determinada editora, porque a editora acreditará que esses autores terão leitores? Vamos traduzir isso para o inglês: o agente literário só vai contratar escritores que acha que vão vender? Será que na verdade o agente literário é um representante do mercado?

Agora vamos imaginar o feliz cenário: o agente contrata você. Parabéns. Mas eis aqui a má notícia: ele vai mexer com seu texto e não vai enviar às editoras até ficar satisfeito. “Esse final tá muito deprimente, imagina, o povo não vai gostar”, isso foi o que o agente literário falou para uma das escritoras com as que eu dividi uma mesa num festival. E a escritora mudou o final, que continuou deprimente, mas justificado pelo amor.

Nos últimos anos, com as novas tecnologias, o cenário está mudando um pouco: alguns autores que se autopublicaram viraram best-sellers ou ganharam prêmios importantes. Mas esse fenômeno ainda é marginal.

Se você é aspirante a escritor, na sua próxima viagem aos Estados Unidos, além de visitar um monte de shopping centers, marque reunião com um agente literário.

Quem sabe você é o próximo Jabuti… ou não.

Por Juan Pablo Villalobos no Blog da Companhia

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